quinta-feira, 7 de julho de 2016

Igreja Saint-Eustache - França

Saint-Eustache
Igreja Saint-Eustache – a igreja do ventre de Paris

Em Les Halles, no centro de Paris, não tem como não notá-la. Ela é enorme, imponente e marca uma época em que nobreza e comerciantes andavam pelo bairro e frequentavam a mesma paróquia.
Saint-Eustache
No século XIII, o lugar onde hoje fica a igreja fervia. O bairro Les Halles atraía comerciantes de várias regiões e eles eram cada vez mais numerosos, pois ali ficava o mercado central de Paris (halles). Mas não havia igrejas na proximidade. A mais perto era a Saint-Germain-L’Auxerrois e não era propriamente ao lado. Então, em 1213, decidiu-se construir ali no bairro uma pequena capela, dedicada a Sainte-Agnès, mártir romana.

Saint-Eustache
Saint Eustque
Só que a população cresce. Além disso, a capela era frequentada por quem vinha da Île de la Cité e de Montmartre. Então, após várias reformas e ampliações, ficou decidido que a capela seria demolida e uma igreja maior construída no lugar.
Saint-Eustache
A primeira pedra foi colocada em 19 de agosto de 1532, no reinado de François I. Não se sabe o nome do arquiteto e nem de seus colaboradores. A construção – como em muitas igrejas na França – é longa, dura mais de 100 anos. Mas, apesar do tempo, ela conserva uma unidade arquitetônica, o que talvez mostre que o projeto inicial não sofreu grandes mudanças.
Saint-Eustache
A Saint-Eustache é consagrada em 1637, já com o nome do santo, cujas relíquias a igreja passou a abrigar. Mas a tranquilidade não durou muito: em 1665, Jean-Baptiste Colbert, ministro de Louis XIV, que frequentava a paróquia, decide construir duas capelas sob as torres da fachada, o que compromete a estrutura. Assim, a fachada e o primeiro tramo da nave e das naves laterais são demolidos.
Saint-Eustache
E ainda não acabou. Só em 1754, o duque de Chartres, Philippe, coloca a primeira pedra dessa fachada. O projeto, realizado por Jules-Hardouin Mansart de Jouy, continua inacabado até hoje.
Saint-Eustache
Igreja frequentada tanto pelos comerciantes do mercado quanto pela nobreza, é chamada de “Paróquia Real”. O número de personagens ilustres que ali passaram é de impor respeito. Só para citar alguns: Louis XIV fez sua primeira comunhão ali. Saint-Eustache foi também o lugar onde Richelieu, Molière e Madame de Pompadour (favorita de Louis XV) foram batizados. A missa de obséquios da mãe de Mozart também aconteceu nessa igreja. E Colbert está enterrado em uma de suas capelas.
Saint-Eustache
Com a Revolução, a Saint-Eustache é fechada. Em 1793, torna-se Templo da Agricultura. Em 1795, é parcialmente cedida aos Théo-philanthropes, seita bem vista pelos revolucionários. Em 1844, sofre um grande incêndio. Assim, tanto a igreja quanto seu mobiliário já estão muito danificados.
Saint-Eustache
No século XIX é um período de muitas restaurações e valorização do patrimônio histórico na França. Assim, Saint-Eustache é alvo de um ambicioso projeto de restauração e reconstrução. O diretor é o arquiteto Victor Baltard, famoso por construir os pavilhões de Halles (do mercado) na mesma época. Ele também desenha a caixa do órgão, o púlpito e o altar principal. Tudo o que estava degradado é refeito, como, por exemplo, as pinturas.
Saint-Eustache
A restauração sofre um pouco com os acontecimentos de 1870/1871 (guerra contra a Prússia e Comuna de Paris). Logo em seguida, o teto, os contrafortes e a fachada sul são reparados. Em 1928, a fachada principal foi revista e estabilizada.
Saint-Eustache
Em 1969, o mercado parte para a região de Rungis, na periferia ao sul de Paris. Então, a prefeitura cria no bairro a grande estação do RER Châtelet-Les Halles, (ligando as duas estações de metrô Châtelet e Les Halles), em 1977; um centro comercial, o Forum Les Halles, em 1979; e centros de atividades culturais. Assim, o público da igreja muda. Já não havia mais as famílias nobres desde a Revolução, agora também não haveria mais os comerciantes do mercado.
Saint-Eustache
Em 1990, o órgão é restaurado. Depois, é a vez de a igreja sofrer uma nova restauração, que dura até hoje.
Saint-Eustache
E isso nós podemos ver quando visitamos a Saint-Eustache. Uma parte dela está novinha, super iluminada. As fotos nem ficam tão boas de tanta luz. Já a outra parte, é bem escura, e por isso difícil de fotografar, e a gente vê as degradações do tempo e o quanto ainda precisa ser restaurado. Mas nada disso tira a beleza da igreja.
Saint-Eustache




Essa é a pintura mais danificada e que será restaurada em breve

As proporções da igreja impressionam: ela mais parece uma catedral. No interior, a decoração é do Renascimento Francês e as medidas são: 100m de comprimento, 43 metros de largura e 33 metros de altura. Basta caminhar ali dentro e nos damos conta do quanto ela é alta, mas a sensação é de leveza.
Saint-Eustache
Algumas obras-primas de Saint-Eustache
O altar principal – desenhado por Victor Baltard, um dos mais importantes arquitetos franceses do século XIX. Ainda no coro, os vitrais, de Antoine Soulignac, são mais antigos, do século XVII.
Saint-Eustache
Saint-Eustache
Saint-Eustache
Chapelle de la Vierge (Capela da Virgem) – Era decorada com mármore, madeira e tinha quadros. Tudo desapareceu na Revolução. Restaurada em 1802, no altar há uma bela estátua de Maria, obra-prima de Jean-Baptiste Pigalle, um dos mais importantes escultores franceses, que viveu no século XVIII (veja o post sobre aSaint-Sulpice).
Saint-Eustache
Saint-Eustache
É consagrada em 28 de dezembro de 1804, pelo Papa Pio VII, que estava em Paris para a sagração de Napoleão I. Os afrescos da capela foram feitos por Thomas Couture, um dos principais pintores do século XIX, e narram o poder de intercessão de Maria.
Saint-Eustache
Chapelle de Charcutiers, também chamada de Chapelle Saint-André ou du Souvenir – Situada logo após a porta de entrada (vá à esquerda logo após entrar), lembra a época em que várias corporações do mercado tiveram suas capelas. É uma das mais antigas, de 1230. No século XVII, foi da comunidade de pintores e escultores de Paris, antes de passar para a Corporação de Charcutiers (Salsicheiros), no final do mesmo século.
Saint-Eustache
Recentemente, uma sociedade de Charcutiers, chamada Le Souvenir, retomou esse costume e financiou a reconstrução da capela Santo André, que havia sofrido com um incêndio. Eles chamaram um artista suíço, John Admeler, que concebeu uma obra contemporânea, inaugurada em 2000. Em uma das paredes, a pintura de Isidore Pils, do século XIX, mostra uma jovem que é empurrada por um soldado romano quando tentava recolher o sangue de Santo André martirizado.
Saint-Eustache




Saint-Eustache
Um dos painéis de John Armleder, 2000

O Mausoléu de Colbert – Fica à esquerda da Chapelle de la Vierge. Foi concebido por Antoine Coysevox, junto com o Charles Le Brun, este último primeiro pintor da corte de Louis XIV. O poderoso ministro do rei morre em 1683. Como sua família, assim como várias famílias nobres da paróquia, tinha uma capela na Saint-Eustache, decidiu-se construir um verdadeiro mausoléu no lugar.
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Na efígie feita por Coysevox, Colbert aparece em posição de oração. Ao lado dele, duas alegorias femininas: à esquerda, a Fidelidade (que pode ser entendida como à Igreja e ao Reino da França), também obra de Coysevox. E à direita, a Abundância ou a Fé, realização de Jean-Baptiste Tuby. A obra, tipicamente barroca, é incompleta. No projeto original, um anjo desceria e uma arcada com a Bíblia em mãos.
Saint-Eustache




A Fé ou a Abundância – Jean-Baptiste Tuby

Chapelle de la famille d’Epernon – Fica ao lado da capela de Colbert e o nome é por causa de uma família nobre, que mantinha o lugar. Aqui uma obra-prima, o quadro de Rubens, retratando os discípulos de Emaús, de 1611. A obra mostra toda a virtuosidade do artista: as expressões dos personagens, a perfeição ao retratar a natureza morta (algo muito característico dos pintores do Norte da Europa). Pena que a falta de iluminação não deixa as fotos mostrarem muita coisa.
Saint-Eustache




Les Disciples d’Emmaüs – Peter Paul Rubens, 1611

Chapelle Saint-Vicent de Paul – Fica um pouco depois da capela de Epernon. Ela leva esse nome porque o santo viveu na área e frequentava a paróquia, entre 1613 e 1623. Aqui a curiosidade é uma obra contemporânea: La vie du Christ, de Keith Haring, de 1990. O artista foi voluntário em diversas cidades do mundo, defendendo causas como a AIDS, que o mataria no mesmo ano da obra. Doada a Paris, em 2003, por vontade do próprio Haring, ela foi colocada na Saint-Eustache porque a igreja acompanha muitas pessoas que sofrem da mesma doença. No centro das obras do artista há sempre uma criança, símbolo da inocência no nosso mundo violento. Aqui, o menino é Jesus.
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Triptyque La Vie du Christ – Keith Haring, 1990

Chapelle Sainte-Geneviève – Fundada em 1542, por Jehan Brice, comerciante burguês, teve vários nomes até ser consagrada em 1803 à santa. Nela está um quadro do pintor florentino Santi di Tito, chamado Tobia e l’Angelo. O que é curioso aqui é que a obra faz parte dos tesouros de guerra de Napoleão I.
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Santi di Tito – Tobia e l’Angelo, 1575

Chapelle Saint-Louis – É uma das mais antigas da construção do edifício atual. As pinturas são de Felix Barrias, do século XIX, e retratam a vida do rei, desde quando ele coloca a Coroa de Espinhos na Sainte-Chapelle até sua morte. Já os vitrais mostram sua infância e as ogivas retratam a chegada aos céus depois da morte.
Saint-Eustache




A infância de São Luis – A educação do futuro rei em presença de sua mãe, Blanche de Castille

Chapelle Saint-Eustache – Dizem que guardava as relíquias do santo e de sua família. Tudo foi destruído na Revolução, mas o relicário em forma de cruz grega ainda está ali. As pinturas murais mostram a lenda do santo, que teria sido um soldado romano que, convertido ao Cristianismo, é martirizado com mulher e filhos, após a família negar-se a abandonar a nova religião. O autor da obra, de 1855, é Alphonse François Le Hénaff.
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Chapelle Pélerins d’Émaüs – Leva esse nome por causa das pinturas, que retratam esse episódio. Muitos atribuem essas obras a Simon Vouet, outro pintor muito importante no século XVII. Dizem que foi ele também que fez as obras da Chapelle Saint-Vicent de Paul, mas não se sabe ao certo. Aqui uma coisa interessante é a obra Le départ des fruis et legumes du coeur de Paris (Tradução literal: a Partida das frutas e legumes do coração de Paris), de Raymond Mason. Ela faz uma alegoria da mudança do mercado do centro de Paris para Rungis, em 1969.
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Le départ des fruits et légumes du coeur de Paris le 28 février 1969 – Raymond Mason

Chapelle Saint-Jean-Baptiste – Era dedicada a Saint-Denis, porque, em 1619, a abadessa de Montmartre, Marie de Beauvilliers, teria doado à igreja um pedaço das relíquias do santo e dos companheiros. Depois mudou para Saint-Jean-Baptiste por causa do batistério do século XX (São João Batista é sempre lembrando quando se fala em batismo). Aqui, há uma cópia do século XVIII do quadro de Rubens, L’Adoration des Mages.
Saint-Eustache
Le Martyre de Saint-Eustache – Simon Vouet – Fica acima de uma das portas do fundo da igreja. Foi encomendado por Richelieu para o altar principal da igreja. Era completada, na parte de cima, por outra cena, do mesmo autor: L’Apothéose du Saint Martyr. Mas, infelizmente, a obra foi tirada da igreja e separada. A parte da apoteose foi enviada ao Musée de Nantes, no interior da França, e ainda está lá. A outra metade, a do martírio, depois de entrar na coleção de um cardeal, é doada por um tal de Moret, em 1855, à prefeitura de Paris, que o devolve à Saint-Eustache. Por que ela é tão importante? Porque Simon Vouet é um gênio da pintura francesa do século XVII e essa é uma das obras-primas dele.




Le Martyre de Saint-Eustache – Simon Vouet
Saint-Eustache

 Saint-Eustache Le Banc– É o lugar onde ficavam sentados os membros mais nobres da paróquia. O de Saint-Eustache é um dos mais bonitos da França e foi realizado em 1720 por Pierre Lepautre. Ele tem a forma de um pórtico sustentado por quatro colunas. Nele, está a estátua de Saint-Agnès, a padroeira da capela primitiva.
Saint-Eustache
Em frente ao Banc d’Oeuvre, está o Púlpito desenhado por Baltard, no século XIX. Outra obra-prima da igreja.
Saint-Eustache
Entre a porte de entrada e a Chapelle de la Vierge, uma capela apresenta uma escada e uma porta. Ela leva para uma outra capela, dedicada a Sainte-Agnès e às sala de catecismo e outras reuniões.
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A fachada Inacabada de Jean-Hardouin Mansart de Jouy – Na parte exterior da igreja, na rue du Jour, nós podemos ver a fachada inacabada do famoso arquiteto. Frequentador da paróquia – foi, inclusive, batizado na Saint-Eustache -, aceitou fazer a obra como voluntário. Mas, em 1755, ele abandona a carreira. Após alguns anos de pausa, a fachada é confiada a Pierre-Louis Moreau-Desproux. Mas a Revolução para de vez os trabalhos.
Saint-Eustache
Assim como outras igrejas de Paris, a Saint-Eustache recebe vários concertos de música clássica e sacra. Há uma pequena audição, gratuita, aos domingos, 17h30. Se tiver a oportunidade de ir, não perca. A acústica ali é perfeita.
Saint-Eustache
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fonte:http://diretodeparis.com/saint-eustache-a-igreja-do-ventre-de-paris/

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