sexta-feira, 13 de junho de 2014

Ananda Moyi

Sri Ma Anandamayi é mais uma das grmaniXX. Seu nome de família era Nirmala Sundari Devi, nasceu na Índia em 30 de Abril de 1896 em uma vila onde hoje é Bangladesh. Sua família Brahmane com certo prestígio, porém sem grandes posses possibilitou-lhe uma infância alegre, tornando-se uma menina de encantadora beleza e muito querida por todos que à conheciam.
Não havia completado ainda 13 anos de idade quando foi casada com Sri Ramani Mohan Chakravarty, que mais tarde passou a ser conhecido como Bholanath, por ser esse o nome pelo qual Sri Ma costumava chamá-lo. Conforme o costume, a criança-noiva foi viver sob o teto da família do marido, foi para a casa do irmão do noivo, onde viveu durante 4 anos. De uma infância alegre e descontraída foi atirada em uma situação onde lhe era exigida disciplina e dedicação à novas responsabilidades, ajudando sua cunhada nos trabalhos da casa: lavar, limpar, cozinhar, carregar água, etc. Mas nada disso alterou o semblante nem diminuiu o bom-humor daquela jovem que sempre se demonstrava feliz em ser útil. Tal simplicidade e alegria chegou a preocupar um pouco sua nova família, pois poderia ser o indício de uma mente simplória. Levou algum tempo para que percebessem que se tratava de alguém muito bem centrada e equilibrada, obediente porém não sugestionável por outros, alguém de admirável compaixão por tudo e por todos; família, vizinhos, animais e plantas. Aqueles que a conheciam podiam sentir o toque mágico de seu sincero interesse pelo bem estar de todos.

Ao completar 18 anos, com o mútuo consentimento de ambas as famílias ela mudou-se para Ashtagram para ficar com o marido onde ele vivia e trabalhava. Muito foi escrito e comentado à respeito da pureza e perfeito celibato deste casamento, porém são palavras inadequadas já que não foram levantadas por quem caberia dizer algo sobre isso.


No mesmo ano, devido a uma transferência no trabalho, Bholanath foi para Bajitpur, enquanto que Sri Ma ficou na casa dos pais por três anos antes de ir também para lá.

A cidade de Bajitpur tem um especial significado para os devotos de Sri Ma, pois foi onde em 1918 teve início a sua atividade espiritual aos olhos do mundo após ter recebido uma inspiração divina. Em suas próprias palavras Sri Ma relata:
"Um dia em Bajitpur eu fui ao poço perto da casa onde vivíamos para o meu banho diário, quando jogava água em minha cabeça a Kheyala veio a mim: Como seria viver o papel de um Sadhaka? E assim a Lila teve início."
Kheyala é uma palavra muito usada por Sri Ma, significa uma inspiração elevada, um sentimento espontâneo, uma determinação divina, Sadhaka é um termo para designar o aspirante espiritual e Lila significa brincadeira divida ou suprema diversão.


À partir daquele dia, após servir o jantar e cuidar de seus afazeres domésticos, pedia permissão ao marido para retirar-se a suas práticas espirituais.

Era uma moça singela sem nenhuma educação formal, nunca tinha tido um guru ou qualquer instrutor yogue, porém Bholanath constatou que ela simplesmente sentava-se e mergulhava nas profundezas do Ser.


No começo repetia o mantra "Hari", pois era uma feliz reminiscência de infância, um mantra que havia aprendido com o pai. Certo dia Bholanath perguntou: "Por que você diz "Hari, Hari, Hari"? Nós não somos Vaishnavas!" Sri Ma respondeu: "Devo então dizer: Siva, Siva, Siva?"Bholanath ficou satisfeito. A troca da palavra em nada alterou a prática de Sri Ma. Após alguns dias Bholanath percebeu que Sri Ma estava assumindo certas posturas yogues das quais ela não tinha nenhum conhecimento prévio. E à medida que os anos passaram o enigma aumentou ainda mais; apesar de nunca ter estudado nem recebido instrução formal, Sri Ma demonstrava profundo conhecimento, expunha à doutores e estudiosos discutindo com autoridade sobre temas difíceis e controvertidos.


Quando Sri Ma se dedicava aos mantrans mergulhava tão profundamente na prática, que parecia se tornar uma com o som que emitia, todo o seu corpo entrava em sintonia com esse ritmo transcendental, movia-se em um ciclo espontâneo emanando uma radiação de santidade tão genuína que quem presenciasse poderia sentir essa inegável atmosfera de bênçãos. Bholanath compreendeu rapidamente que sua pequena esposa era muito mais do que ele imaginava. Tanto que tornou-se seu discípulo e guardião!

Durante os seis anos seguintes Sri Ma aprofundou-se em vários tipos de práticas espirituais (sadhanas), referindo-se a este período de sua vida certa vez ela disse: "Incontáveis são as sadhanas pelas quais o homem pode trabalhar para obter a auto-realização e todas estas variedades revelaram-se a mim como parte de mim mesma." Ela falava à estudiosos das doutrinas, buscadores espirituais, ascetas, e todos se maravilhavam pelo seu brilhante e detalhado conhecimento. Anos mais tarde, Sri Ma disse que este conhecimento era ainda uma pequena fração de tudo aquilo que se havia revelado durante seus anos de sadhana.
Em 1924 mudaram-se para Dhaka. Os rumores de uma jovem dotada de dons espirituais cresceram e aos poucos os visitantes vinham cada vez mais, tornando-se devotos por toda a vida. Devido aos costumes rígidos daquele tempo, Sri Ma era um tanto quanto inacessível ao público masculino, Bholanath era a pessoa no comando e no seu justo direito mantinha o respeito ao redor de Sri Ma.

Em Dhaka Sri Ma viveu em uma atmosfera de acontecimentos miraculosos, pessoas vinham de longe até ela em busca de curas, Sri Ma frequentemente entrava em samadhi permanecendo neste estado por horas totalmente esquecida de tudo ao seu redor, mergulhada em bem-aventurança. Geralmente Bholanath tinha que trazê-la de volta do transe, chamando-a repetidas vezes. Ela sempre obediente ao marido, abria os olhos e dizia: "Você quer que eu me levante?" Ele então pedia que algumas mulheres acompanhantes ficassem falando com ela, massageando suas mãos até que ela despertasse totalmente daquele estado de "intoxicação" por Deus, se é que se pode definir assim.
Esta oscilação entre as dimensões terrena e transcendental era uma constante na vida de Sri Ma, seus seguidores habituaram-se a vê-la alternando entre os dois mundos, num momento ela estava presente, radiante participante, num outro momento retirava-se completamente para seu mundo interno.
Sri Ma e Bholanath viajaram muito extensivamente a lugares de peregrinação, os devotos em Dhaka haviam construído um pequeno Ashram para Sri Ma, mas nem mesmo isso impediu-a de deixar a cidade em 1932 acompanhada por Bholanath e Bhaiji, seu mais importante discípulo e seguidor. Foram para a região de Dehra Dun, onde surgiram novos admiradores e seguidores.

Nessa época o próprio Mahatma Gandhi tomou conhecimento de Sri Ma através de um devoto e então enviou um colaborador seu para visitá-la. Em outra ocasião, Sri Ma viajou a Wardha quando então conheceu o próprio Gandhi em pessoa. Anos mais tarde Indira Gandhi também estabeleceu estreito contato com Sri Ma.
Aquela mesma agitação de gente reunida em Dhaka acontecia novamente em Dehra Dun, haviam festivais religiosos reuniões para cantos sagrados (Kirtans) e Sri Ma era a luz central dessas reuniões. Esta atmosfera festiva teve que enfrentar duas crises: em Agosto de 1937 Bhaiji, o mais dedicado devoto de Sri Ma deixou este mundo. Não muito depois, em Maio de 1938, o mesmo aconteceu com Bholanath, seu marido.

Contrariando a expectativa dos seguidores, Sri Ma não demonstrou sinais de tristeza, ela permaneceu serena como sempre e disse: "Vocês lamentam e choram quando uma pessoa vai para uma outra sala da casa? A morte está inevitavelmente conectada à vida. Na esfera da imortalidade, que significado tem a perda e a morte? Ninguém está perdido para mim."

Fazia parte da "Kheyala" de Sri Ma mover-se continuamente, sem planejamento algum, de cidade em cidade ela seguia sempre rodeada por multidões de devotos, pessoas de diferentes idiomas e províncias. Quando a situação se tornava demasiada incontrolável ela mudava-se novamente. Os devotos construíam-lhe Ashrams em muitas cidades, mas isso nunca a impediu de seguir para novos lugares. Mesmo assim, aos poucos a "Sangha" (comunidade de devotos) foi se organizando. 


Em 1940 Sri Ma já era reconhecida e respeitada entre personalidades de considerável renome na Índia, tendo sido reconhecida por ordens monásticas como sendo a quintessência da tradição Upanishadica.
Em muitos eventos religiosos aos quais compareciam maharajas, príncipes e várias personalidades de renome do meio artístico e político, a presença de Sri Ma sempre ocuparia um lugar de extraordinário glamour. Ela conheceu quase todos os dignatários políticos após a independência da Índia, suas conversas com eles eram sempre sobre Deus e sobre as aspirações divinas dos homens. 

Sri Ma falava muito sobre a importância de se observar a prática mensal, senão à semanal de retiros e jejum, em 1952 Sri Jogibhai o então presidente da Sangha Sri Anandamayee, promoveu no Ashram de Varanasi o primeiro "Samyam Saptah", um retiro de sete dias com a presença de Sri Ma, no qual os devotos podiam praticar coletivamente. Os participantes observavam jejum total no primeiro e no último dia e nos demais dias havia uma única refeição por dia servida pela própria Sri Ma. As atividades de cada dia seguiam a orientação de Sri Ma; havia a prática diária individual de meditação e mantrans, após o que todos se reuniam para ouvir leituras ou discursos das escrituras sagradas, intervalo para almoço e descanso e novas reuniões ao anoitecer. 
A popularidade destes retiros era fenomenal, vinha gente de muito longe, pessoas comuns e mahatmas, a melhor parte do dia era às 21:30 quando Sri Ma respondia às questões da assembléia. Aquela breve satsanga com Sri Ma alimentava as práticas do dia que passava rápido como um relâmpago. 

Conforme disse Swami Chinmayananda; assim como quando o sol brilha não há necessidade de se definir o que vem a ser um raio de luz, da mesma forma Sri Ma é compreendida com simplicidade, sem necessidades de demonstrações.
Apesar de todo glamour e assédio por todos onde quer que fosse, ela viveu uma vida de asceta. Durante muitos anos comia em dias alternados uma única refeição ao dia, quando alguém se preocupava com sua alimentação ela dizia: "Não é necessário comida alguma para preservar o corpo. Eu me alimento para manter uma aparência e um comportamento normal, de forma que você não se sinta inconfortável comigo." 

Sri Ma não dava importância às disputas entre religiões, raças, sexos etc, para ela tudo era O Um. Pureza na fala, nas ações e nos pensamentos é o ideal para todos aqueles que buscam a realização divina.
Quando conversava com pessoas jovens e modernas, ela se mostrava totalmente consciente das tendências atuais, mesmo assim seus interlocutores não conseguiam fazê-la concordar com suas demandas. Bem humorada, ela sempre fazia-os aceitar o seu pedido de procurar Aquele que está escondido na caverna de cada coração. 

Nos últimos anos Sri Ma foi tornando-se mais retirada do público, diziam que era devido a não estar bem de saúde. Parece que não era a "Kheyala" de Sri Ma ser imune à doença, muitas vezes ela disse: "Porque vocês se sentem tão contrariados em relação às doenças? Assim como vocês elas também têm acesso a este corpo! Alguma vez eu disse para vocês irem embora?" Algumas vezes ela atendia aos pedidos e preces dos devotos sendo vista executando certas práticas yogues para se ver livre de alguns de seus males, mas no fim da década de 70 e em 1981 ela não mais respondeu a nenhuma prece ou apelo para cuidar de sua recuperação. Ela cumpria seus compromissos sempre serena, mas foi aos poucos se retirando das massas e os devotos foram se acostumando a ter menos acesso e ver menos frequentemente Sri Ma.

Às preces para a sua recuperação ela simplesmente respondia: "Não há kheyala." Numa ocasião, Sri Jagadguru Sankaracharya de Shringeri, Sarada Peetham, quis convidá-la para uma cerimônia anual "Durga Puja" e insistiu que ela devia se livrar rapidamente daquelas doenças para comparecer ao evento.
Ela respondeu no seu usual tom sereno e amoroso; "Este corpo não tem doença alguma paizinho, ele está apenas sendo chamado de volta ao imanifesto. Tudo que você vê acontecendo agora está conduzindo à este evento." No dia seguinte ao desejar-lhe boa viagem, ela novamente explicou sua impossibilidade de viajar dizendo: "Como Atma, eu sempre estarei com você."

Como uma mãe que sabe que os filhos têm que caminhar sozinhos, Sri Ma foi se afastando dos devotos para que eles não sentissem sua falta. Não respondia às cartas, entretanto os correspondentes sentiam em seus corações suas questões respondidas. Não atendia às suas funções usuais no Ashram, e parou de se alimentar por vários mêses tomando apenas um pouco de água ocasionalmente.
Seus últimos dias foram no Ashram de Kishenpur. Ela não fez nenhuma despedida apenas disse "Sivaya namah" na noite do dia 25, este mantra era a indicação da dissolução final de suas ligações com o mundo. Ela tornou-se imanifesta na Sexta feira, 27 de Agosto de 1982 em torno das 20:00h.

Sri Ma esteve entre nós em um tempo conturbado. ela permaneceu sempre junto ao seu povo, mantendo vivos os ideais milenares das tradições da Índia. Ela compreendeu as implicações existenciais dessa nossa era tecnológica, e ao seu modo colocou esta realidade em uma perspectiva adequada àqueles que desejam ver além disso tudo. Em resumo, sua mensagem é que Deus está tão presente hoje entre os homens como esteve nas eras passadas.

fonte-  http://www.anandamayi.org/ashram/portuguese/a1_ptbr.html


A Mãe Impregnada de Alegria
Nirmala Sundari (em sânscrito,"Beleza Imaculada", um nome adequado para uma mulher cuja beleza, tanto física quanto espiritual, era de tirar o fôlego) nasceu em 1896, em Kheora, Leste de Bengala,(hoje Bangladesh).

Na época de sua morte, em 1982, essa camponesa virtualmente iletrada seria reverenciada em todo o mundo como Anadamayi Ma, a Mãe Impregnada de Alegria.
Nirmala era lembrada por vizinhos e parentes como uma criança excepcionalmente alegre e luminosa - mas não especialmente inteligente. A sua tendência de parar abruptamente todas as atividades e fixar os olhos abstratamente no espaço por longos períodos deixava os seus pais apreensivos. A preocupação deles tinha começado no momento exato do seu nascimento, quando a criança recém-nascida não chorou.
Anos mais tarde, quando a sua mãe lembrou esse acontecimento alarmante, Nirmala reagiu:
 - Por que deveria eu ter chorado? Eu estava olhando as árvores através das ripas da janela. (.....)
 Os seus pais contrataram o seu casamento com Bholanath; cinco anos depois, ela foi morar com ele. Quando viu sua estonteante noiva, Bholanath deve ter se considerado o homem mais sortudo da terra. De fato, ele tinha sido abençoado, mas não da maneira que esperava: a sua esposa recusava-se categoricamente a fazer sexo com ele.
A sua consternação transformou-se em horror quando ele acordou no meio da noite e encontrou Nirmala contorcendo o seu corpo no chão e emitindo sons estranhos e obscuros. Ficou convencido de que ela estava possuída e  consultou um exorcista.

 Nem Bholanath nem Nirmala tinham treinamento religioso formal, e assim, na época, nenhum dos dois reconheceu que Nirmala estava assumindo espontaneamente posturas da Hatha yoga ou que as suas estranhas vocalizações eram, na verdade, mantras sagrados.
 De 1918 a 1924, Nirmala desinteressadamente se observou passar pelos vários estágios da "sadhana", a prática espiritual.
 Desde o momento do seu nascimento plenamente consciente, quando ficou olhando as árvores, Nirmala aparentemente permaneceu no estado de "sakshin", como é chamado o estado de testemunho lúcido na yoga.

 - O que eu sou, sempre fui desde a minha infância - afirmou ela posteriormente. - Contudo, diferentes estágios da "sadhana" se manifestaram através deste corpo. A sabedoria foi revelada pouco a pouco; o conhecimento integral foi dividido em partes.
 Nirmala - que nasceu vivenciando a unidade de toda a criação - achava surpreendente vivenciar o mundo aos pouquinhos e em partes, como faz o resto de nós.
 O comportamento não - ortodoxo de Nirmala chocou a sua família muitas vezes durante a sua vida. Uma de tais ocasiões ocorreu quando ela se recusou a se curvar diante dos seus antepassados, um requinte social considerado imprescindível em Bengala. Porém, Nirmala tinha ouvido uma voz lhe dizendo: "Voce não deve se curvar diante de ninguém. A quem voce quer homenagear? Voce é tudo."
 - Imediatamente - afirmou Nirmala -, compreendi que todo o universo era a minha própria manifestação. O conhecimento parcial deu lugar ao universal, e eu me descobri face a face com a Unidade que aparenta ser muitas coisas.

 Isto - o auge de todo o esforço místico - realmente seria uma façanha para qualquer pessoa, ainda mais para uma jovem que nunca tinha tido um guru.
 Não era que o assunto de um guru ou guia espiritual não tivesse surgido. Os amigos que conheciam as inclinações espirituais de Nirmala, encorajaram-na com veemência a buscar um mestre que a iniciasse formalmente na vida espiritual. Ela foi até os pandits locais, mas nenhum estava interessado em ensinar uma camponesa pobre e iletrada. Em 3 de agosto de 1922, numa ruptura total com toda a história da tradição religiosa hindu, Nirmala Sundari Chakaravarti se sentou e iniciou a si mesma.
 A yoga ensina que o guru, o mantra que ele confere durante a iniciação e o discípulo são, na realidade, uma única coisa. Já estabelecida naquela realidade indivisível, Ananda Mayi Ma dramatizou esta unidade quando interpretou os papéis de mestre e de discípulo simultaneamente, com seu Eu superior conferindo o mantra ao seu eu inferior. Assim, ela recebeu o mantra diretamente da divindade interior e tornou-se uma das poucas sábias do hinduísmo que, alcançaram a plena iluminação sem a ajuda de um guru.

 Em 1922, Bholanath, o aturdido marido de Nirmala, tinha visto o bastante para concluir que sua esposa estava possuída por Deus. Tornou-se o seu primeiro discípulo.
 Em 1924, ele e Nirmala se mudaram para uma casa de campo no estado de Shahbag e, enquanto Bholanath cultivava os jardins, Nirmala cultivava um número crescente de devotos. Uns foram atraídos pelos rumores de curas milagrosas, outros pela músicas. A voz de Nirmala quando cantava as glórias de Deus, era sublime. A população logo começou a chama-la de Mãe do Mundo.

 As palavras dessa mulher radiante surpreendiam os seus visitantes. Ela falava com autoridade sobre estados além do tempo e do espaço, como se os conhecesse intimamente.
 " O tempo devora incessantemente. Tão logo a infância acaba, a juventude assume o seu lugar - uma engolindo a outra. Mas, na realidade, o surgimento, a continuidade e o desaparecimento ocorrem simultaneamente em um só lugar. Tudo é infinito; infinito e finito são, de fato, a mesma coisa. Em uma grinalda, há um único fio, embora haja lacunas entre as flores. São as lacunas que causam a carência e o sofrimento. Preenche-las é se libertar."
 Nirmala ensinava os seus extasiados discípulos a preencherem as lacunas com o amor a Deus e submissão à Sua vontade. Ela insistia em que Deus não era somente o criador do universo, mas também a essência do próprio ser da pessoa. "A verdadeira natureza do homem - dê a isto o nome que voce quiser - é o Eu supremo de tudo."
 Em 1924, Nirmala parou de se alimentar. Ela observou com desinteresse característico, que as suas mãos simplesmente não conseguiam levar o alimento à sua boca. Pelo resto de sua vida, os devotos precisaram alimenta-la como a um bebê.

 Em 2 de junho de 1932, à meia noite, Nirmala convocou um punhado de discípulos íntimos e fez uma surpreendente participação. Estava partindo. Por que? suplicaram seus devotos. Para onde ela iria?
 Ela explicou que não sabia e partiu imediatamente. Durante um ano, ela se estabeleceu em um templo abandonado de Shiva, perto de Dehradun, aparentemente se submetendo a severa penitência, mas, de fato, como ela mesma admitiu, permanecendo em uma inexprimível alegria. De qualquer maneira, esse foi o último local no qual pode-se dizer que Anandamay-Ma morou. Depois disso, ela se mudou constantemente. Em cada lugar em que parou, surgiram "ashrams" e instituições de caridade.

Apesar da ausência de um guru externo, Nirmala não estava, de maneira alguma, sem orientação espiritual. O seu Kheyal, ou Guia Interior, direcionava o curso da sua vida.(...) As centenas de histórias sobre o Kheyal de Anandamayi Ma são lendárias.

Por exemplo, uma noite, no meio de um kirtan (cântico religioso), Nirmala se levantou e saiu andando rapidamente para fora da casa. Dois devotos correram atrás dela, perguntando para onde estava se dirigindo.
Sarnath - respondeu ela.
Sarnath ficava a muitas milhas de distância.
 - Por que voce está indo esta noite? quiseram saber os devotos. - Não há nenhum trem para Sarnath a esta hora!
Nirmala continuou em ritmo apressado até a estação ferroviária. A seu pedido, um devoto comprou um bilhete para o trem postal que passaria perto de Sarnath, mas que não estava programado para parar lá. Nos arredores de Sarnath, o trem parou inexplicavelmente. Nirmala e os seus dois entontecidos devotos saltaram.
 - Qual o caminho para o Hotel Birla? - perguntou ela.
 Eles não tinham a menor idéia. Ela continuou andando vigorosamente, com o seu minúsculo séquito correndo para acompanhar.
 O hotel surgiu e os tres entraram apressadamente. Nirmala ignorou o hoteleiro e se dirigiu diretamente para um quarto. Quando eles se aproximaram, os devotos escutaram uma mulher gemendo dentro do quarto. Nirmala bateu com força na porta dizendo:
 - Está tudo bem! Estou aqui!
 A porta se abriu e os devotos ficaram surpresos ao ver Maharattan, uma condicípula. Maharattan tinha chegado poucas horas antes em Sarnath. Estava desamparada e sem dinheiro, e, desde então, tinha estado chamando por Anandamyi Ma.
 Nirmala passou o resto da noite caçoando de Maharattan.
Indubitavelmente, esta experiência curou a agradecida devota de qualquer ansiedade durante algum tempo! (....)
Em 1955, quando o juiz distrital de Vindhyachal soube que Anandamayi Ma estava visitando a sua área, correu para ter o seu darshan (a benção de ver um santo em pessoa).

Ma parecia estar esperando por ele, e levou-o para a varanda. Apontando para o jardim embaixo, ela instruiu:
- Deuses e deusas estão por aí, debaixo da terra. Eles me disseram que é muito cansativo ficar enterrado e que gostariam de ser retirados. Voce pode ajudá-los?
Imediatamente o juiz reuniu um grupo de trabalho e começaram a cavar. Penetrar na rocha sólida era um trabalho árduo.
No segundo dia, o grupo estava cheio de irritação, questionando se o juiz tinha perdido a razão. No terceiro dia, eles descobriram duzentas primorosas estátuas antigas enterradas na lama.

 Anandamayi Ma era abraçada não apenas pelas pessoas simples, mas também pelos maiores intelectuais, santos e políticos da India, incluindo Mahatma Gandhi, que se encontrou com ela em 1942, e Indira Gandhi, que a admirava desde a infância.
 Quando o maior intelectual da India, Gopinatha Kaviraj, visitou Ma, as respostas às suas questões filosóficas de difícil compreensão que esta mulher sem educação formal instantaneamente ofereceu, o surpreendeu tanto que ele se mudou para o ashram dela, onde passou o resto de sua vida.
  
 A estima por Anadamayi Ma se refletia nos acontecimentos que cercavam as suas aparições nos Kumbha melas da India, feiras religiosas que atraíam milhões de peregrinos, incluindo os dirigentes de muitas das principais instituíções religiosas indianas. A rivalidade entre os vários líderes religiosos é famosa e, às vezes, infelizmente, tempera as melas com intolerância, ao invés de com o espírito de harmonia que as feiras pretendem promover.

Na última década da vida de Ma, parecia só haver uma única coisa com a qual os dignitários religiosos no kumbha mela concordavam: todos iam à barraca de Ma para se curvarem reverentemente diante da mulher idosa cuja santidade era tão plenamente evidente que até mesmo o mais rancoroso deixava o seu egotismo, junto com as suas sandálias, do lado de fora da porta. Brâmanes inimigos apareciam pedindo a Ma que arbitrasse as suas disputas; após alguns minutos em sua silenciosa e luminosa companhia, os argumentos enfraqueciam e eles podiam sair da barraca sorridentes e se abraçando.

Foi ali que Ma finalmente foi reconhecida como a Mãe Universal; a santa cuja compaixão não conhecia barreiras de casta, credo ou nacionalidade; a santa diante da qual todas as pessoas, independente da sua formação, reverenciavam a serenidade.
O encontro de Paramahansa Yogananda com Ma, como descrito no seu clássico Autobiografia de um Iogue, foi a primeira apresentação de Anandamayi Ma para muitos ocidentais.

Um verdadeiro exemplo de santidade
Anandamayi Ma não escrevia e nem dava conferências; simplesmente vivia na presença divina. Do seu ponto de vista, ela não servia às outras pessoas porque não as via como separadas de si mesma. Remover o sofrimento delas era simplesmente aliviar a si própria.

Embora os seu devotos a tivessem visto viajando por toda a India, ela nunca foi a lugar algum: "Para este corpo, a questão do ir e vir absolutamente não procede. Este corpo não vem nem vai a lugar algum. O universo como um todo é o lar deste corpo. Para onde este corpo pode ir? Em todos os lugares, só existe uma única consciência onipresente. Não há nenhum espaço para o corpo se mover ou até mesmo para se virar. Mesmo se for empurrado, ainda estará lá."

ortunadamente para a posteridade, diversos seguidores de Anandamayi Ma anotaram as respostas dela às suas perguntas; esses diários constituem a parte principal de sua mensagem para a humanidade.
Sobre os desejos mundanos ela dizia: "se voce deseja fama ou riqueza, Deus irá dá-la a voce, mas voce não se sentirá satisfeito. O reino da  consciência é uma unidade, e, até que vivencie isto em sua totalidade, voce nunca ficará contente. Ao mesmo tempo, Deus lhe concede um pouquinho da sua alegria para manter vivo o seu descontentamento, porque, sem esta insatisfação, voce não irá progredir. Voce, um filho da imortalidade, nunca pode se sentir à vontade no reino da morte e nem Deus irá permitir que voce permaneça ali. Lembre-se que o sofrimento que voce experimenta é o início de um despertar da consciência."

O que é um guru? "Todo mundo é um guru. Cada pessoa através da qual alguém aprendeu algo, não importa o quão insignificante seja. Porém, o verdadeiro guru é aquele cujos ensinamentos guiam voce em direção a compreensão do Eu. Implore continuamente a Deus para que ele possa Se revelar a voce como o seu Mestre Espiritual e a menos que voce descubra o guru interior, nada pode ser alcançado. (..........)

Ananadamayi Ma ensinava que a única realidade é a realidade divina; que a nossa percepção de nós mesmos como separados de Deus é apenas um sonho, uma imposição da ignorância, e que as pessoas que se libertam dos seus apegos  a desejos mesquinhos e motivações egoístas, voltando-se sinceramente para o divino, não no céu mas em si mesmas, podem viver cada momento em perfeita alegria. Disto, ela mesma era um exemplo vivo.
A maior contribuíção de Anandamayi Ma não foi tanto o que ela fez ou o que disse; é o que ela foi. Ela surpreendeu e inspirou a milhões de pessoas - primeiro na India, depois por todos os lugares do mundo - pelo seu verdadeiro ser: incessantemente radiante, totalmente unido ao divino e, no entanto, constantemente sensível às necessidades de todos os que chegavam até ela.

A resposta enigmática de Ma à pergunta frequentemente verbalizada por seus devotos, "Quem é Voce?", era: "Eu sou tudo aquilo que voce achar que sou". Talvez isso fosse um indício de que Anandamayi Ma era simplesmente um espelho daquilo que há de mais puro e mais maravilhoso dentro de nós mesmos e de que o propósito da sua existência era somente o de nos mostrar o que todos nós podemos ser.
Para nós, hoje, a quase iletrada camponesa de Bengala oferece um exemplo radical de uma mulher realmente liberada; um ser humano que amou todas as pessoas que chegaram até ela como se fossem seus próprios filhos e, no entanto, permaneceu independente de todos; que serviu constantemente as outras pessoas sem se preocupar se elas eram suficientemente agradecidas.
            http://www.almasdivinas.com.br/filhas_deusa/anandamayima_2.htm
Amor por Gaia 
vide

GEMA- HILDEGARD  e STA TEREZINHA  em SANTAS E SANTOS

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