Hélder Pessoa Câmara, nasceu na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, no dia 7 de fevereiro de 1909. Filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, maçom, jornalista, crítico teatral e funcionário de uma firma comercial. Sua mãe D. Adelaide Pessoa Câmara, era professora primária. Formaram uma família simples e tiveram treze filhos, dos quais somente oito conseguiram sobreviver, os demais morreram vítimas de uma epidemia de gripe, que assolou a região no ano de 1905.
O décimo primeiro filho do casal recebeu o nome de Hélder, por escolha do pai, que é a denominação de um pequeno porto, situado na Holanda.
A sua tendência religiosa veio a florescer a partir dos quatro anos de idade, devido a influência dos padres lazaristas, que atuavam na Arquidiocese de Fortaleza, conhecido por Seminário da Prainha.
Recebeu sua primeira eucaristia aos oito anos de idade e aos quatorze entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde fez os cursos preparatórios, e depois cursou filosofia e teologia. Durante os estudos sempre demonstrou desenvoltura nos debates filosóficos e teológicos.
Na festa da assunção de Nossa Senhora, comemorada no dia 15 de agosto de 1931, o seminarista Hélder, foi ordenado sacerdote, por especial autorização da Santa Sé, em virtude de ainda não ter completado a idade mínima exigida para ordenação, que era a de 24 anos.
Sua primeira missa foi celebrada no dia seguinte a sua ordenação aos 22 anos de idade.
Em seguida foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, cargo que exerceu por cinco anos.
Depois foi transferido para o Rio de Janeiro, onde morou e trabalhou por 28 anos. Colaborou com revistas católicas, organizou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, exerceu funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação, fundou a Cruzada São Sebastião, para atender favelados e o Banco da Providência, destinado a ajudar famílias pobres.
O Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no dia 20 de abril de 1952, o elegeu Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. No período em que permaneceu lá, exerceu o cargo de Secretário Geral da CNBB, implantou os ideais da Organização, promovendo interação entre os bispos do Brasil, participou de congressos para atualização e adaptação da Igreja Católica aos tempos modernos, sobretudo integrando a Igreja na luta em defesa da justiça e cidadania.
Aos 55 anos, Dom Hélder Câmara, foi nomeado Arcebispo de Olinda e Recife. Assumiu a Arquidiocese, em 12 de março de 1964, permanecendo neste cargo durante vinte anos.
Na época em que tomou posse como Arcebispo em Pernambuco, o Brasil encontrava-se em pleno domínio da ditadura militar. Momento político este, que o tornou um líder contra o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos, praticado pelos militares
Desempenhou inúmeras funções, principalmente em Organizações não Governamentais, movimentos estudantis e operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria.
Como sacerdote representante da Igreja Católica, Dom Helder pôde levantar a sua voz em defesa da comunidade sem vez e sem voz na escala social. Teve como ideário nas suas pregações a luta pela fé cristã e a caridade aos pobres e oprimidos.
Paralelamente às atividades religiosas, Dom Helder criou projetos e organizações pastorais, destinadas a atender às comunidades do Nordeste, que viviam em situação de miséria.
Devido a sua atuação política e social, sua pregação libertadora em defesa dos mais pobres, seja pela denúncia da exploração dos países subdesenvolvidos, ou pela sua pastoral religiosa em prol da valorização dos pobres e leigos, foi chamado de comunista, e passou a sofrer retaliações e perseguições por parte das autoridades militares. Foi impedido de ter acesso aos meios de comunicação de massa e de divulgar suas mensagens durante todo o período ditatorial.
Apesar de tudo, a personalidade de Dom Hélder ganhava, cada vez mais, dimensão no Brasil e no exterior. Recebia, constantemente, convites para proferir palestras e presidir solenidades nas universidades brasileiras e em instituições internacionais.
No final da década de 90, com o apoio de outras instituições filantrópicas, lançou oficialmente, na Fundação Joaquim Nabuco, a campanha Ano 2000 Sem Miséria. Para ele era grande o constrangimento em saber que, às vésperas do segundo milênio do nascimento de Jesus Cristo, milhares de pessoas ainda vivessem na miséria.
Dom Hélder escreveu diversos livros que foram traduzidos em vários idiomas, entre os quais, japonês, inglês, alemão, francês, espanhol, italiano, norueguês, sueco, dinamarquês, holandês, finlandês.
Recebeu cerca de seiscentas condecorações, entre placas, diplomas, medalhas, certificados, troféus e comendas.
Foi orador de massas no Brasil e no exterior, onde expressou, com densidade e força, seus ideais, posicionamentos, questionamentos religiosos, políticos e sociais. Foi distinguido com 32 títulos de Doutor Honoris Causa, vinte e quatro prêmios dos mais diversos órgãos internacionais. Diversas cidades brasileiras concederam-lhe cerca de 30 títulos de cidadão honorário.
O Arcebispo D. Hélder Câmara é lembrado na história da Igreja Católica Apostólica Romana, no Brasil e no mundo, como um Apóstolo, que soube honrar o Brasil e usar o carisma de defensor da paz e da justiça para os filhos de Deus.
No dia 27 de agosto de 1999, a figura do grande peregrino do povo, com sua aparência frágil e a palavra forte, vitimada por uma parada cárdio-respiratória, calou a voz, para dar início a infinita caminhada para a verdadeira vida, que era assim como ele via morte.
"[...] quando dou pão aos pobres,
chamam-me de santo, quando
pergunto pelas causas da pobreza,
me chamam de comunista [...]"
Dom Hélder Câmara
"O DOM da Paz" Recife, 22 de julho de 2004. (Atualizado em 9 de setembro de 2009).
FONTES CONSULTADAS:
DOM Hélder- 90 anos: o dom dos pobres. O Povo, Fortaleza, 7 fev. 1999. Caderno Especial.
DOM Hélder: ele é tão bonito que na certa ressucitará. Jornal do Commercio, Recife, 29 ago. 1999. JC Especial.
JORGE, José. Homenagens: Dom Hélder Câmara. Joaquim Nabuco. João Cabral de Melo Neto. Vicente do Rego Monteiro. Brasília: Senado Federal. 1999. 64p.
ROCHA, Zildo. Hélder, o Dom. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 2000. 224p.
Fonte: MACHADO, Regina Coeli Vieira. Dom Helder Câmara. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em:http://www.fundaj.gov.br
Instituto Dom Hélder Câmara
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou hoje (15) a aprovação de apoio financeiro, no âmbito da Lei Rouanet, ao Instituto Dom Helder Câmara (IDHeC), de Pernambuco.
Os recursos, no valor de R$ 845 mil, serão aplicados na restauração do conjunto arquitetônico da Igreja de Nossa Senhora de Assunção das Fronteiras, no Recife, onde será construído um memorial que abrigará todo o acervo do arcebispo Dom Helder Câmara.
Morto em 27 de agosto de 1999, de parada cardiorrespiratória, ele se destacou na defesa dos direitos humanos e políticos no país, em especial durante os anos de ditadura militar.
A participação do BNDES equivale a 86,5% do investimento total do projeto, de R$ 977,4 mil, segundo a assessoria de imprensa da instituição. A casa onde morou o arcebispo será também recuperada e funcionará como centro de informações e pesquisas.
O Instituto Dom Helder Câmara foi fundado pelo religioso depois de se aposentar como arcebispo de
Olinda e Recife, em 1984.
Fonte: Jornal do Commercio Biografia
“Sua fonte foi a religiosidade tradicional católica, principalmente, do povo cearense e nordestino. Ele apreciava as devoções populares à Eucaristia, à Maria, aos Santos, aos Anjos e ao Papa. O núcleo da sua espiritualidade era o amor a Deus e às criaturas”, menciona o teólogo.
“Dom Helder foi um místico original”. É assim que padre Ivanir Rampon, autor do livro O caminho espiritual de Dom Helder Câmara (São Paulo: Paulinas, 2013), apresenta o arcebispo emérito de Olinda e Recife, que faleceu em 27 de agosto de 1999. Para Rampon, a mística e a espiritualidade são as “facetas mais importantes” de Dom Helder, que, “antes de ser padre ou bispo, antes de ser o guia da Igreja no Brasil, antes de ser o defensor dos pobres, antes de ser o promotor da justiça e dos direitos humanos contra toda a opressão, foi um místico”. Sem essa característica, acentua, “provavelmente, ele não teria sido o bispo das favelas do Rio de Janeiro, o arcebispo dos pobres no Nordeste, o advogado do Terceiro Mundo, o apóstolo da não violência ativa, a esperança de uma sociedade renovada segundo o ideal cristão, o poeta-místico e profeta de uma fé jovem e forte”.
Na entrevista a seguir, concedida à IHU On-Line por e-mail, Rampon conta a trajetória de Dom Helder Camara na Igreja brasileira e sua participação em momentos decisivos, como na Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano de Medellín e no Concílio Vaticano II. “O Concílio, na concepção helderiana, não foi apenas um evento, mas um espírito, um programa de vida, uma concepção eclesial. O Vaticano II lhe deu fundamentos para propagar um cristianismo aberto, libertador, promotor da justiça e da paz. Disse-lhe muitíssimo por suas palavras e silêncios, por seus textos e por seus gestos simbólicos”, relata.
Ivanir Rampon é graduado em Teologia pelo Itepa Faculdades, em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo – UPF, mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE e doutor em Teologia pela Pontifícia Universitas Gregoriana, Roma. Atualmente leciona na Itepa Faculdades, em Passo Fundo - RS.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais foram os aspectos mais marcantes da trajetória de D. Helder Camara na Igreja brasileira?
Ivanir Rampon - Entre outros aspectos, Dom Helder marcou e marca a história da Igreja no Brasil por seus feitos, tais como: a renovação da Ação Católica e a viabilização do Ano Santo de 1950 no Brasil; por ser o fundador (e por anos brilhantes, secretário) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB e pela sua decisiva participação na fundação do Conselho Episcopal Latino-Americano - CELAM; pela organização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro (1955) e por iniciar a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência; por viabilizar o Movimento de Educação de Base, a Operação Esperança, o Encontro de Irmãos e a Comissão Justiça e Paz; por difundir o espírito do Concílio Vaticano II; pela ativa participação em Medellín, ajudando a Igreja de Cristo a ter a coragem profética de assumir a opção pelos pobres; por ter aprofundando Medellín em Puebla quando forças contrárias queriam dar marcha a ré; por ter ajudado a Igreja a abraçar a defesa dos direitos humanos e a causa da redemocratização do país. Estes são alguns feitos. Existem tantos outros.
Mas, além dos feitos, Dom Helder marcou a Igreja no Brasil por seu jeito. De fato, ele é considerado expoente da profecia, figura exemplar de Bispo-Pastor e símbolo mundial da não violência ativa, juntamente com Gandhi e Martin Luther King. Em tudo isso, conseguiu aglomerar pessoas a fim de lutar por causas libertárias importantes. Por exemplo: ele não foi apenas um grande profeta, mas provocou um “arrastão profético” no Brasil e na América Latina. Certamente, o elemento mais conhecido de Dom Helder é a profecia. Mas, na opinião de muitos que o conheceram, esta não é a sua faceta mais importante: é a sua mística, a sua espiritualidade.
No dizer de José Comblin, antes de ser padre ou bispo, antes de ser o guia da Igreja no Brasil, antes de ser o defensor dos pobres, antes de ser o promotor da justiça e dos direitos humanos contra toda a opressão, ele foi um místico, e tudo isso foram apenas circunstâncias em que teve de viver a sua mística. José Beozzo, por sua vez, afirma que Dom Helder consegue ser uma síntese da melhor tradição espiritual da América Latina, pois nele encontramos o profetismo e a veia literária de Pedro Casaldáliga, a intrepidez e o senso político de Ivo Lorscheiter, a atenção aos pobres e a capacidade de conciliação de Dom Luciano Mendes de Almeida, a bondade e a intuição teológica de Aloísio Lorscheider, a coragem e a defesa dos direitos dos pequenos de Evaristo Arns. Penso que, neste sentido, o papa Paulo VI foi muito feliz em apresentar Dom Helder como um místico e um poeta, um grande homem para o Brasil e para a Igreja, alguém com um coração incapaz de odiar: que só sabe amar, que recebeu de Deus a missão de pregar a justiça e o amor como caminho para a paz.
IHU On-Line - Como o senhor descreve o caminho espiritual de D. Helder Camara? Qual a singularidade da espiritualidade helderiana?
Ivanir Rampon - Sobre Dom Helder, já foram escritos centenas de artigos, livros e estudos mostrando o contributo do Bispinho para a educação, a política, a democracia, a profecia, a Igreja, o Vaticano II. Quanto à espiritualidade helderiana, também há ótimos textos. A originalidade do livro O caminho espiritual de Dom Helder Camara está justamente no fato de apresentar a caminhada espiritual de Helder Camara. Em outras palavras, não se trata, apenas, de descrever características de sua espiritualidade a partir de um momento fixo de sua vida, mas de caminhar com ele, percebendo quais foram as constantes, as novidades, as mudanças e os progressos (ou as “conversões”, as “humilhações”, os “novos acentos”, “as gentilezas do Pai”) no seu modo de viver sob a orientação do Espírito Santo. Por isso, foi dada grande importância aos próprios textos e relatos do Arcebispo. Nos primeiros cinco capítulos, indicamos como Dom Helder aplicou a sua força místico-espiritual no apostolado e no ministério sacerdotal, servindo a Igreja, a sociedade e os pobres. Nos outros quatro, analisamos como ele cultivou esta “força”, que lhe dava sustento no “caminho do Senhor”. Ao caminhar com Dom Helder, percebe-se, em uma perspectiva diferente e mais profunda, como ele viveu unido “à Vida divina da Santíssima Trindade” e em “união com Cristo” no decorrer do processo histórico-espiritual que envolveu sua vida e ministério.
A análise de escritos de Dom Helder, especialmente as circulares, nos mostra que a Vigília (oração) e a Santa Missa (Eucaristia) foram fundamentais para que Dom Helder se tornasse “a síntese da melhor tradição espiritual da América Latina”: sem elas, provavelmente, ele não teria sido o bispo das favelas do Rio de Janeiro, o arcebispo dos pobres no Nordeste, o advogado do Terceiro Mundo, o apóstolo da não violência ativa, a esperança de uma sociedade renovada segundo o ideal cristão, o poeta-místico e profeta de uma fé jovem e forte. Sem a Vigília e a Santa Missa, não seria possuidor desta espiritualidade madura, não seria “o DOM”: o Dom da paz, do amor, da justiça, da libertação... o Dom de Deus!
O livro visualiza que Dom Helder foi um místico original, ou seja, alguém que fez caminhada própria na relação/união com Deus, não sendo discípulo de nenhum místico específico, mas tendo afinidades com vários místicos. Sua fonte foi a religiosidade tradicional católica, principalmente, do povo cearense e nordestino. Ele apreciava as devoções populares à Eucaristia, à Maria, aos Santos, aos Anjos e ao Papa. O núcleo da sua espiritualidade era o amor a Deus e às criaturas. O amor ao Amor estava relacionado com a beleza, a pureza, a gratidão, a justiça, o bem, a paz, o perdão. Acreditava na força do amor, sendo profundamente não violento e doando-se totalmente pela paz. Procurava evitar qualquer conflito e entregava-se pela justiça na face da Terra. Não guardava ódio em seu coração. Aceitava as “humilhações” como uma “ajuda” de Deus para aperfeiçoar seu caminho de vida e santidade. Sentia que fora Deus que o fizera mais “testemunho do presente e do futuro, do que do passado”.
IHU On-Line - Quais foram os ensinamentos espirituais recebidos por D. Helder e como eles marcaram sua personalidade e espiritualidade?
Ivanir Rampon - Os primeiros passos (infância e juventude) do caminho espiritual de Dom Helder marcaram profundamente toda a sua caminhada. Entre as principais influências dessa fase, podemos destacar:
- de sua mãe, aprendeu a importância do diálogo, da humildade, do pacifismo e da compreensão diante das fragilidades humanas;
- com afeto e atenção, ouviu seu pai dizer que “sacerdócio” e “egoísmo” não combinam;
- na Conferência Vicentina, compreendeu que a caridade é virtude central da espiritualidade cristã;
- durante o período de Seminário, iniciou suas Meditações que, após a ordenação sacerdotal, tornaram-se constantes e, atualmente, as Meditações do Pe. José são uma fonte incomparável para compreender a mística helderiana;
- do Pe. Cícero recebeu uma lição que viverá exemplarmente: no coração de um cristão e, sobretudo, de um padre, não deve existir uma gota de ódio;
- para que pudesse progredir no caminho espiritual, o Senhor lhe enviou a primeira das grandes humilhações: descobriu que aquilo que parecia defesa da fé, era na verdade orgulho intelectual. Como discípulo, deveria sentar aos pés de Jesus e seguir a seta da humildade, pois, sem essa virtude, não se dá um passo nas vias do Senhor;
- pouco antes da Ordenação, decidiu que não se deixaria engolir pela vida. Para tanto, dedicaria um tempo diário à oração. Desse modo, nasceram as Vigílias, que lhe possibilitarão o ingresso na experiência mística. Esta primeira fase de sua caminhada espiritual foi importante para os outros grandes passos que lhe proporcionarão um amplo desenvolvimento espiritual.
IHU On-Line - Como foi o período em que D. Helder viveu no Ceará? Que aspectos marcam sua trajetória entre 1936 e 1964?
Ivanir Rampon - Helder viveu a primeira fase de sua vida em Fortaleza (1909-1935). Ali se sentiu chamado ao sacerdócio e se fez vicentino. No Seminário, destacou-se pela inteligência, retidão e respeito. Ordenado sacerdote, dedicou-se ao apostolado educacional e político. Ingressou no integralismo, liderou a Liga Eleitoral Católica - LEC e tornou-se “Secretário de Educação” do Ceará. No suceder dos fatos, aprendendo com acertos e fragilidades, deu seus primeiros passos na via da espiritualidade.
Já a segunda fase de sua vida (1936-1964) viveu no Rio de Janeiro. Foi quando se aproximou das teorias do Humanismo Integral e do Desenvolvimento Integral; deixou-se influenciar pelo testemunho de São Francisco de Assis e pela espiritualidade da Ação Católica; dinamizou o Ano Santo de 1950; foi ordenado bispo enquanto realizava a fundação da CNBB, sendo o Secretário Geral da entidade por 12 anos; organizou o XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência; foi um dos fundadores do CELAM. Após o Congresso Eucarístico, desafiado pelo Cardeal Gerlier, iniciou um processo de conversão e de consagração aos pobres. Apoiou o Movimento de Educação de Base - MEB e participou do Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII.
IHU On-Line - Como foi o trabalho desenvolvido por D. Helder nas favelas cariocas? Em que medida essa experiência e sua atividade pastoral contribuíram para seu “progresso espiritual”?
Ivanir Rampon - Após o XXXVI Congresso Eucarístico, sensibilizado pelo Cardeal Gerlier, Dom Helder iniciou aquilo que chamou de “um momento da virada”, ou seja, iniciou a sua consagração especial aos pobres. A partir daquele dia, as visitas às favelas começaram a ser frequentes e se converteram em sua preferência pastoral. Quando bispos e cardeais o visitavam, ele os recebia com grande cordialidade e os levava para um passeio. O principal lugar a conhecer não era mais a Catedral de São Sebastião ou o Corcovado – onde se contempla uma das paisagens mais belas do mundo –, mas as favelas do Pinto, Jacarezinho, Cantagalo, Cabritos, Saudade, Babilônia, Prazeres, Céu, Cachorrinha.
No projeto da Cruzada de São Sebastião, as favelas seriam substituídas por prédios a serem construídos no mesmo local, ou seja, no Leblon, lugar que exibia o extremo da desigualdade social. Para Dom Helder, seria a ocasião de superar a chamada “luta de classes”, aproximando pobres e ricos, morando os trabalhadores vizinhos aos patrões, não obstante as reclamações da burguesia. O Dom queria integrar as favelas na estrutura socioeconômica da cidade. A Cruzada de São Sebastião foi o primeiro projeto de moradia popular de grande extensão no Brasil. Em 1959, por exemplo, estava construindo 672 lojas, 216 armazéns, 216 escritórios, 192 lojas (para bancos, repartições públicas, restaurantes, etc), 140 salas (para médicos, dentistas, veterinários, agrônomos, advogados, despachantes, etc). Além disso, estava projetando o Palácio da Bolsa de Gêneros Alimentícios (8 a 10 andares), serviço de assistência aos veículos, frigorífico e outros blocos residenciais. Já nessa época, Dom Helder era considerado um brilhante reformador social e, quem sabe, um futuro santo. A Cruzada também começou a formar líderes entre os próprios favelados.
Com o trabalho de Dom Helder, as favelas passaram a ser vistas na cidade como uma chaga viva da sociedade. No desenrolar dos trabalhos, Dom percebeu que a Cruzada não resolveria o problema habitacional nas favelas, mas que era preciso mudar a própria estrutura social. Afirmou que, mesmo assim, faria tudo de novo, apesar de sua evolução espiritual vivida no Vaticano II e em Medellín, pois, se a solução definitiva não era esta, ficar parado também não era. Talvez direcionasse mais sua obra para transformar as estruturas. O que mudaria, aceitando a observação que o Papa João XXIII lhe fizera, era o nome anacrônico de “Cruzada”, porque o termo dá uma ideia de guerra, e ele queria ser um apóstolo da paz.
Outras experiências similares à Cruzada foram a do Banco da Providência, o qual, além de ajudar a promover a caridade e a justiça, tornou-se um celeiro de voluntariado, e a Feira da Providência, que arrecadava verbas para ajudar na formação profissional em mecânica, agricultura, artesanato, cozinha, etc. Um dos principais centros de formação foi a Comunidade Emaús, concebida em 1959, durante uma visita do Abade Pierre ao Brasil. A ação de Dom Helder nas favelas o colocou em uma estrada que nunca mais abandonou: a via do empenho para conseguir a justiça social no seu país, na América Latina e no Terceiro Mundo. No Vaticano II, Dom Helder será conhecido como o Bispo das favelas!
IHU On-Line - Qual foi a contribuição de D. Helder durante o Concílio Vaticano II?
Ivanir Rampon - O Concílio Vaticano II transformou-se em uma experiência espiritual decisiva na vida de Dom Helder Camara: meses de intensa atividade, grandes sonhos, novos encontros e amizades que o projetaram na esfera internacional. Com Dom Larraín, conseguiu mudar as estratégias iniciais do Secretariado do Concílio, garantindo uma melhor experiência de colegialidade episcopal. No final do primeiro período conciliar, ele já era apontado como uma das dez mais importantes lideranças da Assembleia, mesmo sem ocupar nenhum posto nos vários organismos oficiais de direção do Concílio. Sua ação se dava nas atividades de articulação da CNBB e do CELAM, em grupos informais como o “Ecumênico”, “Igreja dos Pobres” e “Opus Angeli”. Era pródigo em receber a imprensa, sendo requisitado por jornalistas. Descobriu que seu objetivo deveria ser o de ajudar a manter o Concílio na linha inspirada por Deus ao Papa João XXIII.
Fiel a essa meta, ele defendeu:
1) a sacramentalidade e a colegialidade episcopal;
2) a liturgia renovada e vivificada;
3) o diálogo ecumênico;
4) o diálogo entre o mundo subdesenvolvido e o desenvolvido;
5) um novo modelo de Igreja alicerçado na pobreza e no serviço;
6) a figura do Bispo-pastor;
7) a importância de dar atenção aos “sinais dos tempos” como fez a Gaudium et Spes.
Acrescenta-se que, nos momentos mais duros e angustiosos do Concílio, com seu bom-humor, sua mística, seu sorriso e sua total confiança no Espírito Santo, “quebrava o gelo”, a fim de que fugissem o desânimo e a tristeza e se reacendessem a fé, a esperança e a caridade, animando a fé dos Padres Conciliares.
Com prece e ação, ajudava o amigo Paulo VI neste momento ímpar da sucessão petrina. Relatou a sua experiência conciliar nas Circulares enviadas à Família (espiritual). Foi um dos signatários do Pacto das Catacumbas. Queria superar a era constantiniana, levando a Igreja aos “perdidos caminhos da pobreza”. O Concílio, na concepção helderiana, não foi apenas um evento, mas um espírito, um programa de vida, uma concepção eclesial. O Vaticano II lhe deu fundamentos para propagar um cristianismo aberto, libertador, promotor da justiça e da paz. Disse-lhe muitíssimo por suas palavras e silêncios, por seus textos e por seus gestos simbólicos.
- D. Helder é um dos nomes da Igreja mais lembrados por conta de sua atuação durante a ditadura militar. Qual a importância de sua atuação durante esse período?
Ivanir Rampon - O pastoreio de Dom Helder Camara como Arcebispo de Olinda e Recife (1964-1985) coincidiu com o período da repressão militar e da lenta abertura democrática. Ao chegar a Olinda e Recife, Dom Helder proferiu o “Discurso da Chegada”, deixando evidente que, em nome do Evangelho de Jesus Cristo, fazia uma profunda opção pelos pobres e estava disposto a dialogar com todos. E assim fez: buscou diálogo também com o regime militar, mas este foi fechando todas as portas e janelas, pois não suportava a verdade evangélica defendida pelo Arcebispo. É que os responsáveis pela ditadura militar o desejavam como legitimador religioso do sistema de opressão e repressão.
A irritação transformou-se em ódio quando, em maio de 1970, o Arcebispo rasgou a cortina do cinismo e da mentira na frente de 20 mil pessoas em Paris, proferindo o famoso discurso “Quaisquer que sejam as consequências” – denúncia de que havia torturas no Brasil! A partir de então, Dom Helder passou a ser visto como o maior adversário político pelo governo autoritário. Porém, quanto mais odiado pelo sistema repressivo, mais era amado como uma das grandes, senão a maior figura, que se contrapunha à ditadura. O regime autoritário não o torturará fisicamente, mas o golpeará atingindo lideranças próximas e amigos que eram presos, torturados e assassinados. Dom Helder foi vítima também de uma grande campanha de execração nos meios de comunicação social e, posteriormente, a imprensa nacional foi proibida de pronunciar o seu nome.
Enquanto ele não existia no Brasil, era convidado, no exterior, para encontros, conferências, celebrações e outros eventos, a fim de que anunciasse a mensagem evangélica da paz. Houve um grande crescimento da fama de sua santidade e o auge de sua notoriedade internacional, quando foi indicado, quatro vezes consecutivas, ao Nobel da Paz e agraciado com dezenas de doutorados honoris causa. Neste período, Dom padeceu fortemente o sacrifício da cruz que celebrava em cada Santa Missa, sofrendo, solidário, com os presos, torturados, silenciados, martirizados.
- Deseja acrescentar algo?
Ivanir Rampon - As ideias de Dom Helder, que não são dele apenas, mas nossas – como o Dom gostava de dizer – precisam ser espalhadas a fim de que haja não mais um primeiro, um segundo, um terceiro mundo, mas sim um mundo, “um mundo de irmãos!”. Foi com o intuito de colaborar neste sonho que foi publicado o livro O caminho espiritual de Dom Helder Camara, destinado às lideranças do povo de Deus, a quem busca uma graciosa fonte de espiritualidade cristã e a quem quer fazer parte da abençoada “Família” do Bispinho.
Parafraseando o Papa Francisco – com o qual Dom Helder estaria/está vibrando – podemos dizer que o Dom, de fato, colocou “em jogo a pele e o próprio coração”, sendo um pastor com “cheiro das ovelhas”, levando a unção pela qual foi consagrado a todos, especialmente nas “periferias”, onde o nosso povo fiel o aguardava e o apreciava. Através de suas palavras, escritos, obras e prece, Dom Helder continua a nos oferecer o óleo da alegria que Jesus veio trazer (Lc 4,14ss).
Helder Câmara, um homem universal
Por Eduardo Hoornaert
A cada ano fica mais claro que as dimensões da figura de Helder Câmara ultrapassam as funções que ele ocupou na vida, especificamente a função de arcebispo católico de Olinda e Recife. A cada ano se ressalta mais seu valor universal, para além da diocese, da igreja do Brasil, do catolicismo e mesmo do cristianismo em geral.O primeiro a enxergar isso, 15 anos atrás, foi o escritor e dirigente comunista francês Roger Garaudy. No livro ‘Helder, o Dom’ editado pela Vozes em 1999 e coordenado por Zildo Rocha, ele escreve textualmente: ‘Meu primeiro encontro com Dom Helder foi o momento mais importante de minha vida’ (p. 29).
Não se escreve uma frase dessas à toa. Ela resume uma vida inteira. Ele explica: ‘em 1967, eu estava participando de um encontro em Genebra e, no intervalo de uma das sessões, alguém me procurou para dizer: um arcebispo o espera no corredor´. Era Helder Câmara, que logo tomou a palavra e propôs ao dirigente comunista um pacto: você diz aos comunistas que religião nem sempre é alienação e eu digo aos católicos o socialismo não é algo condenável.
Num de seus escritos, Helder Câmara comentou esse momento com as seguintes palavras: ‘eu sentia que no essencial Roger Garaudy e eu pensávamos da mesma maneira’.
Um dirigente comunista e um arcebispo católico pensam da mesma maneira! Isso não é sinal de universalismo?
E o texto de Garaudy termina com as seguintes palavras: ‘Graças a Dom Helder Câmara, o muçulmano que sou e o marxista que não deixei de ser consideram Jesus o eixo central de minha vida’ (p. 31).
Esse episódio mostra que, já em 1967, Helder Câmara era capaz de transcender o cargo que exercia para enxergar um horizonte mais amplo, o da humanidade como um todo. O mesmo Roger Garaudy, num de seus livros, tinha soltado um grito, dirigido às igrejas cristãs: ‘Devolvam-nos Jesus: Ele nos pertence’.
Jesus é do mundo, não das igrejas. E penso que por trás do encontro entre ele e Helder se pode ouvir um grito parecido, dirigido à igreja católica: Devolvam-nos Helder Câmara, Ele nos pertence.
É o grito silencioso da bandeira do Movimento dos Sem Terra estendida sobre o caixão de Helder Câmara no dia de seu enterro.
Não, não podemos prender Helder Câmara nas nossas instituições. Como discípulo fiel de Jesus de Nazaré, Helder Câmara pertence ao mundo. Não é bom que suas mensagens fiquem apenas circulando dentro de uma determinada organização. Jesus e Helder: pássaros de voo livre, que não podem ficar presos numa gaiola, por dourada que seja.
Pode parecer um tanto ousado o que digo aqui, mas corresponde perfeitamente ao que nós, seus colaboradores, presenciamos diversas vezes no convívio com Helder Câmara. Pessoalmente trabalhei durante quase 17 anos com ele, desde sua posse em 1964 até a minha saída do clero em 1980.
Sempre tive a impressão de que a igreja era para ele um trampolim para a sociedade.
Um palanque, um microfone, uma tela de TV, uma difusora. Isso tanto é verdade que a publicidade foi seu maior escudo contra as ameaças de morte que recebia. Ele só não foi morto porque temia-se a repercussão da morte de um bispo famoso. Escapou pela publicidade em vez de fugir na clandestinidade.
Quero comentar com vocês que numa determinada ocasião ele realmente nos surpreendeu. Numa tarde, parece que foi nos inícios dos anos 1970 ou no final dos anos 1960, ele nos chama para o Palácio dos Manguinhos. Uns vinte padres, mais ou menos. Aí ele começa a dizer que a igreja católica não tem a projeção que merece: o mundo oriental tem Gandhi, os Estados Unidos têm Martin Luther King, mas a igreja católica não tem nenhuma figura que represente o que ela está realmente fazendo neste momento.
Fiquei sem saber o que pensar dessas palavras, pois naquele tempo eu não tinha capacidade de perceber o real alcance delas. Pensei: ele está se comparando a Gandhi e Martin Luther King, isso é muito atrevimento. Só depois de sua morte em 1999, cheguei a compreender o real alcance da comparação daquela tarde nos Manguinhos.
Hoje, entendo que Helder Câmara efetivamente figura como um símbolo universal, comparável a Gandhi, Martin Luther King e, para falar nos termos de hoje, Mandela. São personagens que por assim dizer delineiam figuras que
representam o que há de mais humano no pensamento de uma época, cultura, continente, país, agrupamento humano.
São figuras universais, já desligadas da trajetória concreta de suas vidas. Elas tornam-se símbolos universais:
independência e verdade (a Satyagraha de Gandhi),
superação do racismo (Mandela),
opção pelo pobre (Helder Câmara).
Hoje vejo claramente que, naquela tarde nos Manguinhos, Helder não estava afirmando sua personalidade, mas revelando uma profunda intuição política, uma visão do âmago das questões. Se, naquela época, a desenvoltura com que Helder falou de grandes figuras da história me causou certo espanto, era, no fundo, porque naquele tempo eu não tinha a maturidade para pensar em Helder Câmara. Só consegui pensar em Dom Helder. É foi isso, afinal, que me impediu de enxergar a grandeza de suas colocações.
Continuemos por uns instantes com a comparação entre Gandhi, Mandela e Helder Câmara, desta vez em termos de estratégia de ação. Gandhi foi o mestre, ele avançou a ideia da não-violência ativa como uma estratégia que escapa ao círculo vicioso da dialética entre ação e reação, situação e revolta, dominação e insurreição, ou seja, para falar em termos helderianos, da ‘espiral da violência’.
Nas conferências entre representantes da Índia e da Inglaterra, Gandhi repetia: a independência da Índia não é só boa para os indianos, mas também para os ingleses. Com isso, ele se mostrou capaz de olhar para além das fronteiras da Índia e de compartilhar os sentimentos ingleses. Nisso se mostrou universalista.
Mandela aprendeu isso com Gandhi. De início aderiu a movimentos violentos, o que lhe custou 27 anos de prisão, mas com o tempo aprendeu que a superação do apartheid na África do Sul não era algo bom só para os negros, mas também para os brancos.
Nesse ponto, Helder Câmara mostrou-se igualmente discípulo de Gandhi quando nos dizia, muitas vezes: ‘não se trata de vencer, mas de convencer’. Em suas cartas circulares ele repetia: a rejeição dos métodos de tortura e repressão violenta não é só proveitosa para a população, mas também para os militares.
Na época, muitos não compreendiam essa postura aparentemente fraca por parte do arcebispo e esperavam dele posturas de confronto aberto. Queriam, sem saber, que ele se metesse no círculo vicioso da espiral da violência, mas Helder tinha lido os evangelhos e estava convencido do princípio supremo do amor ao inimigo, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Nisso, ele seguia Jesus, como Gandhi seguia os antigos mestres hindus.
Podemos avançar um pouco mais e dizer que Helder Câmara alçou uma bandeira mais difícil de segurar que as de Gandhi e Mandela. Em seu livro ´A espiral da violência’, de 1978, ele descreve três tipos de violência: a institucional, a revolucionária e a repressiva.
A novidade está na descrição da primeira violência, geradora das demais: a instituição de sociedades baseadas na injustiça e, portanto, na violência. Aqui Helder vai além de Gandhi e de Mandela e ataca um problema que subjaz a todos os demais: a pobreza como consequência da violência institucional.
O livro ‘A espiral da violência’ mostra que a opção pelo pobre é a grande novidade no cenário mundial dos anos 1970, algo mais profunda e mais complexa que a opção pela descolonização ou pela valorização da raça negra. É uma opção que exige uma análise continuada e sempre atualizada da sociedade.
Hoje muitas das ideias helderianas começam a se difundir no mundo e na igreja. O papa Francisco pode ser chamado de helderiano. Mas o programa traçado por Helder Câmara é muito exigente:
Quando dou uma esmola a um pobre, me chamam santo
Quando pergunto por que ele é pobre, me chamam comunista.
Essas duas linhas expressam uma exigência muito grande, melhor, um desafio para todos nós.
Não posso terminar sem esclarecer que não quero dizer que está errado quem continuar falando em Dom Helder, nosso querido Dom. Em minha fala só quis realçar que Helder não necessita do Dom para ser grande. Não se trata de desvalorizar ou ‘secularizar’ o querido Dom. À primeira vista, temos a impressão que dizer ‘Helder’ é diminuir ‘Dom Helder’. Mas isso é apenas uma impressão.
O que importa é que a memória de Helder seja um espaço universalista no coração do mundo e lembre a vocação universalista que todos nós carregamos conosco. Para além da igreja, do cristianismo e mesmo das minorias abraâmicas, em direção às minorias de espírito abraâmico espalhadas pelo mundo inteiro.
Eduardo Hoornaert
Padre , belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, co-fundador do Cehila, mais de 20 livros publicados. Mora em Salvador e é casado com Maria Teresa Dias.