Dedicada a uma missão: assim é possível resumir o caminho vivido por Nhá Chica, a leiga de Baependi (MG) que no próximo sábado (4) será declarada pela Igreja Católica a primeira beata do Sul de Minas. Filha livre de uma ex-escrava, poucos documentos contam a história desta mulher que passou seus dias aconselhando e cuidando de todos que procuravam sua ajuda. Ganhou o título de “Mãe dos Pobres” por seus atos de caridade e sua humildade na forma de viver.
Francisca de Paula de Jesus nasceu em meados de 1810 em Santo Antônio do Rio das Mortes, distrito de São João Del Rei (MG). O primeiro registro que se tem de sua vida foi o atestado de batismo de Francisca, em 26 de abril de 1810. Além disso, somente um inventário do irmão da beata, o testamento de Nhá Chica e seu atestado de óbito são os registros oficiais da vida da religiosa. O levantamento foi feito em 1998, quando a comissão histórica para o processo de beatificação de Nhá Chica foi definida.
“Ela era analfabeta, não escreveu nada em vida”, conta Maria do Carmo Nicoliello Tinho, que foi secretária da comissão histórica de Nhá Chica e responsável pela pesquisa. “Muito do que se sabia dela vinha da tradição oral, histórias que iam passando de pai para filho”. Para montar o processo de beatificação, era necessária a reunião de muitos documentos que provassem a existência da beata na cidade. “A primeira pista que encontramos foi um testamento deixado por Nhá Chica em que ela pedia que fossem rezadas tantas missas para o irmão e tantas para a mãe. Com isso pudemos buscar documentos do irmão dela, que sabíamos era alguém importante na cidade, e costurar as histórias com os fatos”, explica Maria do Carmo.
Mudança para Baependi
Francisca se mudou com seu irmão Theotônio Pereira do Amaral (que seria quatro anos mais velho que ela) e a mãe Isabel Maria para Baependi. Ela tinha cerca de 8 anos na época, e se desconhece o motivo da mudança. Sua mãe morreu logo depois de chegarem à cidade, quando a religiosa tinha cerca de 10 anos, e ela e o irmão passaram a viver sozinhos. Antes de morrer, Isabel teria dito à filha para ela “permanecer solteira, para melhor servir a Deus e à sua fé”. “Francisca nunca se casou, e passou a viver reclusa em sua casinha somente se dedicando às orações e recebendo pessoas para dar conselhos”, conta Maria do Carmo.